domingo, 28 de dezembro de 2014

Sê Todo

Agrada-me saber que não me conheces...

O teu tempo em mim foi como o vapor, que desaparece num espelho, sem que deixe a unicidade das digitais para te reconhecer...

Apenas a ilusão do teu pensamento me quis, tão intensamente quanto a vontade do meu todo, te desejava...

Mas não quiseste permanecer...

E, então, eu te libertei de mim...

Os fragmentos do sufoco da paixão, jamais poderão ser reconstruídos...

Não há livro de soluções, para quem não ouve a sua voz interior, tornando-a muda, esquecida, na escuridão de um fechar de cortinas...

Pois a quem atribuíste a ilusão, foi o erro fatal, de seres infiel à tua alma...

Pensar ser a metade de alguém...

É, ao mesmo tempo, ser a umbra de si próprio...

Querer ser o todo do outro...

É permitir que esse, se complete em ti. 

Agrada-me saber que não me conheces... O Todo que eu sou... 

(MAC)



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Longas Ruas

A brisa aumentava, enquanto as gotas sublimes e frias passavam a grande velocidade pela sua via aberta, caídas do céu, vindo deliciar a amargura da pele...

num momento inesperado, a temperatura amornou, a chuva essa parece ter sido obrigada a uma operação, que a impedia de prosseguir o seu rumo... 

então novos rumos foram traçados...

a noite estava escura, as sombras que vagueavam, eram resultantes de alguma fonte luminosa que surgia a espaços pela rua acima...

os passos seguiam-se com firmeza.... era possível distinguir os de humanos com os restantes... sim… de animais ateados a trelas que relinchavam quando estas eram repuxadas...

outros e selvagens fugidios passos, de uma animal sem parceiro a escapar-se por uma estrada, enfiando-se no breu de um covil, idealizado pelo fundo de um carro ali estacionado, em que sua sombra estaria tão cansada do seu dia, que nem acusava a presença notívaga desse solitário animal...

outros passos eram fáceis de detetar, tal e qual um teste audiométrico estivesse ali a ser testado... 

os passos da chuva que voltara, e como a sua forma de se mostrar era intensa, barulhenta, parecia estar a ser cúmplice de uma outra qualquer personagem que se perdia por aquela rua conhecida, mas antiga de sempre... onde talvez tentasse vaguear de forma solitária e indefinível….

as ruas foram trespassadas, as veias já acusavam alguma palpitação provocada pela metamorfose  que a noite provoca nos caminhos e rotas que se conhece do dia…

se nesses seguintes instantes existissem detetores de calor, certamente seria possível visualizar raios elétricos a percorrerem o seu corpo... era um climax muscular, em que os pêlos se eriçavam à passagem por cada rua, que no seu fim ficava escura sem um raio de luz para lhe direcionar o caminho...

começou a sentir uma interação com algo... o silêncio da noite, era agora um cenário que só poderia ser desenhado por um artista em agonia... 

uma breve e fugaz luz rasgou a escuridão, provocando uma instantânea rotação em busca da sua identidade... mas foi tão efêmera que apenas serviu para aumentar os arrepios que agora se tornavam descontrolados por todo o corpo...

o boné que cobria a cabeça, o mesmo que no passado sempre esteve na sua, agora passeava-se no novo homem... mas por momentos deixou de sentir a sua pressão... 

os olhos fecharam-se instintivamente... o corpo quase gelava… os dedos ficaram da espessura da pele e osso... os passos seguintes foram dados, sem sentir o pisar o solo… a intensidade brutal de feixes de his que transmitiam milhares impulsos elétricos por todo o corpo era assustador… 

e por breves instantes deu a sensação…
a sensação…
a sensação… da incorporação de uma alma no seu ser…

como que se testemunhasse um desejo que apenas vivia na sua alma… um desejo tão intenso que até receava o dia que ele se realizasse…

e só com uns passos temerosos mais à frente, conseguiu certificar-se da presença do boné em sua cabeça, pela sombra que o perseguia de trás de si até se colocar lateralmente pela estrada molhada... 

aquele breve momento, prolongou-se singularmente no seu íntimo... 

o caminho passava a ser familiar de novo, tal como o dia o revela… a rota traçada em sua alma era de novo reconhecida, e em breves passos entrou de novo em seu lar…

lar de quem também o acompanhou pela escuridão das longas ruas percorridas nesta noite…

noite de magia de arrepiar… arrepios intensos de suster a respiração, e ao mesmo tempo de vibração por presenciar momentos de imortalidade…

a existir uma razão de tudo isto… 

essa razão hoje, És Tu.

                                                                                                                                                                                                                       (MAC & DC)


                                                                                                                                              
  

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sorriso

A nossa ligação lateja em cada instante da vida, 
como um pulsar do coração que serve de guia,
e nos mantém unidos...
Não é ténue, nem precipitado, 
é apenas aquele batimento que reconhecemos,
tal como uma transcrição fiel e inalterável, 
da genética que herdamos de Ti... 
Uma ligação umbilical, que nos transporta para a eternidade.
A Tua presença nunca será uma incógnita...
Saberemos sempre onde Te encontrar...
Vives em nós a cada segundo certo da vida...
E ao fechar os olhos, somos iluminados
por aquele Teu sorriso, que é ímpar, 
e nos preenche a Alma, tatuando-a com a doce palavra
AMOR.



P.s. - Hoje sorrimos todos juntos para Ti. (: (20-06-2014)

sexta-feira, 21 de março de 2014

Indefensus


Olha para mim e não me vejas...
Nem me oiças, pois minha voz apagou-se...

Não procures o toque, se não existe mais a identidade...
Não  me sintas ou penses em mim...
Não quero fazer parte de ti...
Do teu imaginário, eu abdico de pertencer...

E ao acordares, naquele primeiro sentimento enevoado, 
de teres sonhado...
Que eu seja apenas um instante de um fragmento da ilusão...
Algo que não se explique...
Que não encontres qualquer vestígio de realidade...
E que nem o meu sorriso me revele...

Não chores por não me reconheceres, 
eu não te pertenço...
Não me desejes, por mais que no emaranhado da escuridão, 
te sintas perdida...

Comum ou cumplicidade, são para nós palavras, 
que apenas vivem acorrentadas entre capas...

E a pele que me cobre, é para ti invisível ao coração...
Pois se teus olhos, há muito que mudaram a sua rota,
o meu ser indefeso ancorou no infinito do vazio...

Não me recordes ou me projetes, se nem o presente eu sou...

Não leias estas últimas palavras, 
Que perdem a sua força, e se apagam na memória...
Servem apenas para se despedirem, sem qualquer mágoa...
Despidas de sentimento...
Desarmadas de poder...
Num silêncio tão profundo, 
Que nos chega a consumir até à primitiva membrana 
Do nosso Ser.
                               

                  Indefensus                            
                                                                         (MAC)


P.s- Lembre-se de não esquecer, o que se esqueceu por não se lembrar. 









quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Pai & Mãe


Deliciado a ouvir as histórias que se desenrolaram com esta fotografia… desde a história da roupa da Mãe, que segundo Ela, o Pai dizia “…é que gosto de Te ver com esta roupa, ficas Linda...” à revelação de que namoravam há dias nesta altura, após a sua vinda da Guerra… que estavam de mãos dadas por trás das costas…que a Mãe (minha avó) não a queria deixar ir, "ainda és muito nova Maria do Carmo"… "mas Eu sempre Gostei do Pai, sempre trabalhamos juntos na fábrica... mas só quando o Pai veio da Guerra é que tudo aconteceu...", diz a Mãe... O drama do Pai com a queda do cabelo (faz-me lembrar alguém...), embora a Mãe lhe dizia “És Lindo na mesma…” e o Pai respondia, um pouco "furioso" “…para Ti…mas Eu não gosto…” (Sorrisos)... O quanto a Mãe se Sentia Orgulhosa, por ter um Homem como o Pai do Lado dela, que segundo a Mãe “… desde o momento que me conquistou, nunca Mais o Larguei…”.histórias e histórias que rapidamente fluíram nestes instantes… o nariz pica-me de ter vontade de chorar, as lágrimas nascem nos meus olhos, e sorrio ao mesmo tempo… Sei que o Pai sorri connosco nesta altura, e sei que nos abraça…
P.s. - Não encontrarei nunca palavras capazes de exprimir o que esta imagem me Oferece. A Minha Essência Nasce desta União. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sinta apenas...

Há coisas boas na vida, coisas essas que não cansam, coisas que se alteram, mas que se mantêm intactas, coisas agradáveis que nos transformam, passando assim a fazer parte de nós...

Há coisas que não se explicam... basta senti-las, não havendo a necessidade de ir em busca de uma explicação, era fácil de a encontrar, e quem sabe se não tornaria, aos olhos de alguns, coisas banais...

Mas nem tudo o que se explica é banal, e o que nos toca a alma, pode ser tão simples, que passa em frente aos olhos de todos nós, mas nem todos veem ou sentem...

Há coisas que crescem em nós, e que as guardamos em "panos de veludo", na esperança de as preservarmos inalteráveis, talvez com o receio de as perder ou esquecer, ou então deixar de as sentir como desejamos...

Na verdade tudo se transforma, mas tudo tem um princípio comum, e é no terno saborear dessas coisas, que o seu significado se irá apurar...

E podemos então, depois de consciencializar este sabor, fechar os olhos... é como que se esse fechar de olhos, se transforme no abrir de olhos para o nosso interior, onde se distingue tudo o que sentimos, onde reconhecemos a voz da nossa alma, como uma luz que nos ilumina...

E um gesto tão simples nasce de seguida, o sorriso dos nossos lábios, como que este, simbolize um exímio tradutor de braille, e num suave toque, ganhamos a sensibilidade de decifrar todos os sentimentos que nos invadem...

E é na união destes dois pequenos gestos, que conseguimos sentir aquele calor interior, como que, de um abraço se tratasse, e que é tão intenso, que não cabe em nós, e desliza então num suspiro, acompanhando a rota da brisa, na direção de outro alguém...

Alguém que reconheça as coisas boas da vida, e que não as questione... Apenas sinta.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Blue Eyes

Fecho os olhos… oiço os sons que me rodeiam… Não os pretendo descrever… levar-me-iam facilmente para mundos imaginários de felicidade, de perfeição… e hoje sinto-me imperfeito, incompleto… sinto uma dor capaz de assolar qualquer sorriso que me pudesse fazer parar este sentimento inverso da alegria…

Três anos!!! Como se explica isso… procura-se respostas onde tudo é mudo, aceita-se esse silêncio, como se estivéssemos na escuridão das profundezas dos mares, nesse universo estéril a sentimentos, capaz de nos consumir a alma… deixa-se o tempo disseminar na vida, como quem ignora as suas responsabilidades…

A tua ausência começa a distanciar-se no tempo, mas o tempo não tem a força capaz para te afastar… Tu venceste a vida, não com a imortalidade, mas antes, com a tua eternidade, que faz de ti, uma constante presença em cada um de nós… um sentir tão natural e inquestionável, como todos aqueles que Deus nos oferece, em cada raiar do sol, em cada sombra reproduzida pela luz do luar… como esta brisa calma que faz as folhas das árvores sussurrarem, nesta Linda Noite apaziguante que hoje me escurece…

Era tão fácil se os nossos sonhos e desejos se realizassem… com um simples fechar de olhos, e bem no nosso íntimo, dar voz ao que a nossa alma reclama... era tão fácil, pensar que bastava acordar, e tudo não tinha passado de um sonho… era tão fácil, se cá estivesses….

Não, a vida não continua… não, não se trata de um processo natural, de um ciclo… A vida é estranha sem ti, e embora nos sintamos ancorados a ti, a vida parece que não se dá a sentir, é como um silêncio, que não chega a ser interrompido com a tua voz que nos tranquiliza, tornando-se assim uma vida vulnerável… a espera que o próximo segundo traga a dádiva cintilante da luz dos teus Blue Eyes…

Não receio esquecer-te, apenas sinto a tua falta… o tempo voa em nossos olhos, a vida perde-se pelos itinerários antes traçados… um cruzamento que não está ninguém à nossa espera… uma recta em que não se avista a curva, em que depositamos a esperança de te encontrar ao contorna-la…

A vida transforma-se numa operação aritmética, onde nunca se subtrai, nem se divide, apenas se soma… mas as saudades multiplicam-se, e Sinto-te sempre tão perto de mim… Não desisto... não o sei fazer, mas sinto que não luto… Não vacilo... iria contra o que me ensinaste... mas perco as forças, quando sinto aquele sacudir que me desperta, e me apercebo que não estarás presente para te mostrar o que conquisto…

Sinto-me à deriva, espero por uma mão tua que me estabeleça de novo o meu rumo… Procuro em qualquer pormenor um sinal teu… desejo ao adormecer que apareças no meu sonho… vou até junto de Ti, à espera de um milagre… Sei que estás presente em tudo isto... mas quero testemunhar, a fé vive em mim, é um herança tua… mas preciso que um destes desejos se realize... esta dor apodera-se de mim, e torna-se insustentável viver sem ti, sem um sinal teu que adie, por breves instantes, este latejar imutável que vive em mim…

Oiço os sons que me rodeiam, e abro os olhos… procuro-te, quero-Te sentir, preciso de te ver… em cada som que reconheço, em cada pormenor que não me escapa, quero sempre acreditar, que és tu que encenas para mim… e lá volto eu a tentar ver a perfeição das coisas… e hoje, só hoje, vou-me deixar levar, e sentir que és tu que fazes as árvores balançar, e que o som suave e calmo que as folhas reproduzem nesta noite, é a tua voz a dizer-me – EU ESTOU AQUI



AMO-TE Meu PAI. (2011.06.20)