A brisa aumentava, enquanto as gotas
sublimes e frias passavam a grande velocidade pela sua via aberta, caídas do
céu, vindo deliciar a amargura da pele...
num momento inesperado, a temperatura
amornou, a chuva essa parece ter sido obrigada a uma operação, que a impedia de
prosseguir o seu rumo...
então novos rumos foram traçados...
a noite estava escura, as sombras que
vagueavam, eram resultantes de alguma fonte luminosa que surgia a espaços pela
rua acima...
os passos seguiam-se com firmeza.... era
possível distinguir os de humanos com os restantes... sim… de animais ateados a
trelas que relinchavam quando estas eram repuxadas...
outros e selvagens fugidios passos, de uma
animal sem parceiro a escapar-se por uma estrada, enfiando-se no breu de um
covil, idealizado pelo fundo de um carro ali estacionado, em que sua sombra
estaria tão cansada do seu dia, que nem acusava a presença notívaga desse
solitário animal...
outros passos eram fáceis de detetar, tal
e qual um teste audiométrico estivesse ali a ser testado...
os passos da chuva que voltara, e como a
sua forma de se mostrar era intensa, barulhenta, parecia estar a ser cúmplice
de uma outra qualquer personagem que se perdia por aquela rua conhecida, mas
antiga de sempre... onde talvez tentasse vaguear de forma solitária e
indefinível….
as ruas foram trespassadas, as veias já acusavam alguma palpitação provocada pela metamorfose que a noite
provoca nos caminhos e rotas que se conhece do dia…
se nesses seguintes instantes existissem
detetores de calor, certamente seria possível visualizar raios elétricos a
percorrerem o seu corpo... era um climax muscular, em que os pêlos se eriçavam
à passagem por cada rua, que no seu fim ficava escura sem um raio de luz para
lhe direcionar o caminho...
começou a sentir uma interação com algo...
o silêncio da noite, era agora um cenário que só poderia ser desenhado por um
artista em agonia...
uma breve e fugaz luz rasgou a escuridão,
provocando uma instantânea rotação em busca da sua
identidade... mas foi tão efêmera que apenas serviu para aumentar os arrepios
que agora se tornavam descontrolados por todo o corpo...
o boné que cobria a cabeça, o mesmo que no
passado sempre esteve na sua, agora passeava-se no novo homem... mas por
momentos deixou de sentir a sua pressão...
os olhos fecharam-se instintivamente... o
corpo quase gelava… os dedos ficaram da espessura da pele e osso... os passos
seguintes foram dados, sem sentir o pisar o solo… a intensidade brutal de feixes
de his que transmitiam milhares impulsos elétricos por todo o corpo era
assustador…
e por breves instantes deu a sensação…
a sensação…
a sensação… da incorporação de uma alma no
seu ser…
como que se testemunhasse um desejo que
apenas vivia na sua alma… um desejo tão intenso que até receava o dia que ele
se realizasse…
e só com uns passos temerosos mais à
frente, conseguiu certificar-se da presença do boné em sua cabeça, pela sombra
que o perseguia de trás de si até se colocar lateralmente pela estrada
molhada...
aquele breve momento, prolongou-se singularmente no seu íntimo...
o caminho passava a ser familiar de novo,
tal como o dia o revela… a rota traçada em sua alma era de novo reconhecida,
e em breves passos entrou de novo em seu lar…
lar de quem também o acompanhou pela
escuridão das longas ruas percorridas nesta noite…
noite de magia de arrepiar… arrepios
intensos de suster a respiração, e ao mesmo tempo de vibração por presenciar
momentos de imortalidade…
a existir uma razão de tudo isto…
essa razão hoje, És Tu.
(MAC & DC)