sexta-feira, 21 de março de 2014

Indefensus


Olha para mim e não me vejas...
Nem me oiças, pois minha voz apagou-se...

Não procures o toque, se não existe mais a identidade...
Não  me sintas ou penses em mim...
Não quero fazer parte de ti...
Do teu imaginário, eu abdico de pertencer...

E ao acordares, naquele primeiro sentimento enevoado, 
de teres sonhado...
Que eu seja apenas um instante de um fragmento da ilusão...
Algo que não se explique...
Que não encontres qualquer vestígio de realidade...
E que nem o meu sorriso me revele...

Não chores por não me reconheceres, 
eu não te pertenço...
Não me desejes, por mais que no emaranhado da escuridão, 
te sintas perdida...

Comum ou cumplicidade, são para nós palavras, 
que apenas vivem acorrentadas entre capas...

E a pele que me cobre, é para ti invisível ao coração...
Pois se teus olhos, há muito que mudaram a sua rota,
o meu ser indefeso ancorou no infinito do vazio...

Não me recordes ou me projetes, se nem o presente eu sou...

Não leias estas últimas palavras, 
Que perdem a sua força, e se apagam na memória...
Servem apenas para se despedirem, sem qualquer mágoa...
Despidas de sentimento...
Desarmadas de poder...
Num silêncio tão profundo, 
Que nos chega a consumir até à primitiva membrana 
Do nosso Ser.
                               

                  Indefensus                            
                                                                         (MAC)


P.s- Lembre-se de não esquecer, o que se esqueceu por não se lembrar.